lunes, 26 de noviembre de 2007

O Intratável






"Apesar das dificuldades da minha história, apesar dos incómodos, das dúvidas, dos desesperos, apesar da vontade de tudo abandonar, não deixo de afirmar a mim mesmo o amor como valor. Escuto todos os argumentos que os mais diversos sistemas utilizam para demistificar, limitar, apagar, em suma, depreciar o amor (...) oponho a tudo o que "não corre bem" no amor a afirmação do que nele há de valor. Essa teimosia é o protesto do amor: no concerto das "boas razões" de amar de outro modo, de amar melhor, de amar sem estar apaixonado, etc., faz-se ouvir uma voz teimosa que se prolonga durante algum tempo mais: a voz do intratável apaixonado. O mundo submente todo o empreendimento a uma alternativa: o sucesso ou o insucesso, a vitória ou a derrota. Protesto com base noutra lógica: estou, ao mesmo tempo e contraditoriamente feliz e infeliz: sucesso ou insucesso não têm para mim senão um significado contingente, passageiro ( o que não impede a violência dos meus sofrimentos e desejos) ; o que me anima, surda e obstinadamente, nada tem de táctico: aceito e afirmo, independentemente de ser verdadeiro ou falso, bem sucedido ou mal sucedido; afasto-me de toda a finalidade, vivo à mercê do acaso ( à medida que as figuras do meu discurso me vêm à mente como jogadas dos dados) Enfrentando a aventura (o que me sucede) , não saio nem vencedor nem vencido: sou trágico. (dizem me: essa forma de amor não é viável. Mas como avaliar a viabilidade? Por que razão ser viável é um Bem? Por que razão durar é melhor que arder ?)"


- Fragmentos de um discurso amoroso, de Roland Barthes






A miséria emocional em confronto com a luxuria racional















A miséria racional em confronto com a luxuria emocional